Papa reiterou pedido de perdão por abusos cometidos por membros do 
clero na Irlanda e deixou palavras de encorajamento às famílias de todo o
 mundo
Jéssica Marçal
 Da Redação

Papa Francisco na Missa deste domingo, 26, no encerramento do Encontro Mundial das Famílias / Foto: REUTERS/Hannah McKay
 
O Papa Francisco presidiu neste domingo, 26, a Missa de encerramento 
do 9º Encontro Mundial das Famílias, que é realizado em Dublin, na 
Irlanda, desde a última terça-feira, 21. O Santo Padre deixou às 
famílias palavras de encorajamento, convidando-as a “partilhar o 
Evangelho da família como alegria para o mundo”.
No momento do ato penitencial, o Papa reiterou o pedido de perdão 
diante dos casos de abusos (de poder, de consciência e sexuais) 
cometidos por membros do clero na Irlanda. Ontem, o Papa se encontrou 
com oito sobreviventes desses abusos e, recorrendo ao que as vítimas lhe
 disseram, quis colocar diante da misericórdia do Senhor esses crimes e 
pedir perdão por isso.
“Pedimos perdão pelos abusos na Irlanda, abusos de poder, de 
consciência, abusos sexuais por parte de membros qualificados da Igreja.
 De maneira especial, pedimos perdão por todos os abusos cometidos em 
vários tipos de instituições dirigidas por religiosos e religiosas e 
outros membros da Igreja e pedimos perdão pelos casos de exploração no 
trabalho a que foram submetidos muitos menores”. 
O Santo Padre pediu perdão também pelas vezes em que, como Igreja, 
não se ofereceu aos sobreviventes de abusos compaixão, busca de justiça e
 de verdade, com ações concretas; bem como pelos casos em que membros da
 hierarquia se silenciaram; e ainda pelos filhos que foram tirados de 
suas mães.
“Que o Senhor mantenha e faça crescer este estado de vergonha e 
arrependimento e nos dê a força para nos comprometermos a trabalhar para
 que nunca mais aconteçam e para que se faça justiça. Amém”.
Na homilia, Francisco desenvolveu sua reflexão a partir do Evangelho 
do dia, em que Jesus falava aos discípulos e muitos deles ficavam 
perplexos, hesitando em aceitar as “palavras duras” de Jesus, contrárias
 à sabedoria do mundo. Em resposta aos discípulos, Jesus diz: “As 
palavras que vos disse são espírito e são vida”, palavras que, segundo o
 Papa, transbordam vida para quem as acolhe na fé. 
“Indicam a fonte última de todo o bem que experimentamos e celebramos
 aqui nestes dias: o Espírito de Deus, que sopra constantemente nova 
vida sobre o mundo, nos corações, nas famílias, nos lares e nas 
paróquias. Cada dia novo na vida das nossas famílias e cada nova geração
 trazem consigo a promessa dum novo Pentecostes, um Pentecostes 
doméstico, uma nova efusão do Espírito, o Paráclito, que Jesus nos envia
 como nosso Advogado, nosso Consolador e Aquele que verdadeiramente nos 
dá coragem”.

Vista
 parcial do Phoenix Park em Dublin; milhares de pessoas se reuniram para
 a Missa com o Papa / Foto: REUTERS/Stefano Rellandini
 
Francisco destacou que o mundo precisa desse encorajamento e convidou
 as famílias ali presentes a voltar para suas casas tornando-se fonte de
 encorajamento para os outros, a fim de partilhar as “palavras de vida 
eterna” de Jesus. E a família, acrescentou, é um lugar privilegiado para
 que isso aconteça. 
A tarefa de testemunhar a Boa Nova de Jesus não é fácil, ressaltou o 
Papa, recordando, porém, que esses desafios não são mais difíceis que 
aqueles enfrentados pelos primeiros missionários irlandeses, citando 
como exemplo de São Columbano, que realizou essa missão evangelizadora 
na Europa em uma época de obscuridade e decadência cultural. 
O Santo Padre considerou que sempre haverá pessoas que vão se opor à 
Boa Nova, mas isso não deve influenciar nem desanimar os fiéis. “Contudo
 reconheçamos humildemente que, se formos honestos com nós mesmos, 
poderemos também nós achar duros os ensinamentos de Jesus. Como 
permanece difícil perdoar àqueles que nos magoam! Que grande desafio 
continua a ser o acolhimento do migrante e do estrangeiro! Como é 
doloroso suportar a desilusão, a rejeição ou a traição! Como é incómodo 
proteger os direitos dos mais frágeis, dos nascituros ou dos mais 
idosos, que parecem estorvar o nosso sentido de liberdade!”. 
Por fim, o Papa lembrou o envio missionário que cada cristão tem a 
partir dos sacramentos do Batismo e da Confirmação. “A Igreja, no seu 
conjunto, é chamada a ‘sair’ para levar as palavras de vida eterna às 
periferias do mundo. Que a nossa celebração de hoje confirme cada um de 
vós – pais e avós, crianças e jovens, homens e mulheres, frades e 
freiras, contemplativos e missionários, diáconos e sacerdotes – na 
partilha da alegria do Evangelho! Possais partilhar o Evangelho da 
família como alegria para o mundo”.
Próximo compromisso do Papa
A Missa no Phoenix Park não encerra a agenda de atividades do Papa 
Francisco na Irlanda. Ainda hoje, ele se encontra com os bispos no 
Convento das Irmãs Dominicanas e só depois segue para o aeroporto para a
 cerimônia de despedida. Francisco deve chegar a Roma às 23h (hora 
local, 19h em Brasília).