Celebrar uma "Santa Semana" em meio à pandemia

sexta-feira, 3 de abril de 2020

Para vivermos bem a Páscoa do Senhor, a Igreja em sua sabedoria nos traça um caminho que começa no Domingo de Ramos

Semana Santa começa com o Domingo de Ramos, que este ano, devido à pandemia de Coronavírus, não terá procissão externa, nem a presença dos fiéis / Foto: Arquivo Canção Nova
A Semana Santa de grande parte dos católicos no mundo será diferente. Os fiéis não irão às paróquias, mas terão de participar por meio da comunhão espiritual e terão a possibilidade de viver a liturgia através dos meios de comunicação. Sem procissão, sem as habituais liturgias de devoção. E o que dizer da Celebração de Páscoa, a solenidade mais importante da Igreja? Os fiéis se unirão também a distância.
Porém, nenhuma das celebrações perderá sua beleza e significado, e por este motivo, o fiel deve se preparar e vivê-las como sempre as viveu. Ou melhor, poderá vivê-las de modo mais profundo, diante do grave momento enfrentado na história.
Padre Anderson Marçal, membro da comunidade Canção Nova, doutor em Teologia Pastoral Bíblico-Litúrgica pela Universidade Salesiana de Roma, e atualmente pároco de Paróquia Santa Cândida, em São Paulo, destaca que viver a Semana Santa deste modo inédito nos dará a oportunidade de valorizar as celebrações, que talvez em outros anos, por termos sempre fácil acesso não havíamos nos conscientizado de sua importância.
“O primeiro passo é a nossa disposição de coração, disposição de estar dentro das realidades virtuais, de estar ali por inteiro, como se nós fôssemos mesmo na Igreja. Então nossa roupa precisa ser adequada à celebração; estar com uma liturgia se for possível, para acompanhar as leituras. Que possamos dar as respostas da Santa Missa. Enfim, a disposição interior ela vai refletir no exterior em todo este momento que estamos vivendo. E este momento ajuda a termos com maior profundidade o nosso desejo de participar da Eucaristia”, ensina Padre Anderson.
A Igreja, por meio da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, publicou um Decreto com as disposições para as celebrações que vão desde o Domingo de Ramos até o Domingo de Páscoa. A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), por sua vez realizou uma atualização com propostas de adequação para a realidade brasileira.
O secretário da Congregação para o Culto Divino, Dom Arthur Roche, destacou ao publicar o documento, que por mais que a situação seja grave, a Páscoa não pode ser adiada, pelo contrário, deve ser bem celebrada depois da “preparação deste período especial de Quaresma, tão marcado pela dor, pelo medo, pela incerteza”.
“Neste período de isolamento, a gente viu, porém, como se multiplicou a criatividade dos sacerdotes, que, diariamente, encontram um modo para ficar próximos às pessoas, com todos os meios à disposição hoje.Muitos fiéis rezam o terço, conectados ao rádio, à TV e à internet. Vivemos um momento excepcional”
Domingo de Ramos, o início de um santo caminho 
Para vivermos bem a Páscoa do Senhor a Igreja em sua sabedoria nos traça um caminho que começa no Domingo de Ramos. Uma liturgia especial que, ao mesmo tempo que revela Jesus como rei, indica os passos de sua Paixão.
“Ali começa a Semana Santa porque Jesus ao entrar em Jerusalém , ele não entra somente como um peregrino que está fazendo a sua visita em Jerusalém, ele entra como rei. Jesus entra como Salvador da humanidade, Jesus entra decididamente para fazer a vontade do Pai. O Domingo de Ramos tem essa importância porque é a entrada de Jesus em Jerusalém para cumprir sua missão, pois poucos dias depois sua paixão, morte e ressurreição aconteceriam”, destaca Padre Anderson Marçal.
A tradicional Procissão de Ramos não será realizada, neste ano, devido ao isolamento social, porém, essa peregrinação, podemos realizá-la interiormente, tendo em vista a grande solenidade que virá em seguida.
O Tríduo Pascal é uma única celebração em três dias. Tem início na quinta feira Santa com a missa do lava-pés e culmina na “Vigília das vigílias”, em que celebramos a vitória de Jesus sobre a morte.
Padre Anderson recorda que no início do Tríduo, Jesus deixou tesouros inexprimíveis para a vida da Igreja. “Na véspera de sua paixão Jesus instituiu dois sacramentos importantíssimos para a vida da Igreja, que são o Sacramento da Ordem e o Sacramento da Eucaristia. Estes sacramentos são simbolizados, realizados no lava-pés. Não existe maior prova de amor do que dar a vida pelo irmão, disse o próprio Jesus. E essa celebração mostra que Ele instituiu esses dois sacramentos por amor”.
Portanto, destaca ainda o sacerdote, “trata-se de uma celebração que começa na quinta-feira, percorre toda a sexta feira e o sábado que durante o dia é um tempo de silêncio profundo para que nós cheguemos na noite e celebramos a Ressurreição de Jesus a vitória de Jesus”.
O que muda se celebramos ou não ? Padre Anderson esclarece que na Santa Missa nós atualizamos o Mistério de Jesus, então todos nós em todas as celebrações eucarísticas, estamos naquela bendita quinta-feira santa, portanto quando eu não participo não me faço presença, parte do Mistério Salvífico de Jesus. “Quando eu não participo significa que eu escolho não fazer parte desse grande evento que é o memorial da nossa salvação. Aqui está o grande motivo para participarmos e participarmos bem”.

Adaptações práticas na Liturgia

Como já citado, o decreto da Congregação para Disciplina dos Sacramentos, trouxe mudanças para as celebrações deste ano. Tendo em vista que as celebrações serão vividas sem a participação física dos fiéis e estes viverão a comunhão espiritual.
O Domingo de Ramos não contará com procissão externa, mesmo porque, não terá a presença dos fiéis. A Missa do Crisma, que prevê a participação de todos os sacerdotes da diocese, poderá ser transferida para uma outra data, de acordo com a autoridade local.
No Tríduo Pascal, que segue sem a participação física dos fiéis, alguns ritos foram retirados. Na Missa da Ceia do Senhor, na quinta-feira santa, não haverá o lava-pés que, na realidade, é facultativo. Não haverá a procissão com o Santíssimo Sacramento ao final da Missa.
As funções da Paixão do Senhor, na sexta-feira santa, terão intenções especiais para os doentes, os defuntos, para quem sofre e se encontra em dificuldade. E o tradicional beijo à Cruz será dado somente pelo celebrante. A Vigília Pascal será celebrada somente nas catedrais e paróquias. 
As expressões de piedade popular, que são muito vividas neste tempo litúrgico, e as procissões que enriquecem os dias da Semana Santa e do Tríduo Pascal, podem ser transferidas para outras datas quando for  possível a presença dos fiéis e se assim optar o bispo. 

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