MARIA: A PRIMEIRA CANTORA CRISTÃ

domingo, 22 de novembro de 2015


Neste dia de Santa Cecília, padroeira dos músicos, gostaria de entrar no coração desta mártir dos primórdios do cristianismo (século II) e aprender com ela duas lições muito fortes na vida da primeira cantora do cristianismo: Maria. Duas mulheres e duas lições. São como as duas mãos de um instrumentista que precisam estar bem sincronizadas para executar seu instrumento. São como o dois lados do coração que precisam pulsar ao rítmo da sístole e da diástole para garantir a vida. São como a dinâmica dos passos que exige sempre que um pé esteja na terra e o outro não para que possamos caminhar. Estas duas lições essenciais para qualquer músico que busca a santidade são a “mística” e a “missão”.
A Mística
Naquele dia a jovem de Nazaré estava em silêncio e ouviu a voz do anjo Gabriel. Mais do que ausência de palavras, o silêncio fecundo que dá origem à música inspirada é feito de sintonia. Não basta calar. É preciso sintonizar. O silêncio é a matéria prima de toda canção. Como pode um pintor fazer sua pintura se não tiver onde colocar suas tintas e projetar a imagem que já existe em sua imaginação? O quadro branco onde o músico pinta suas notas e pausas é o silêncio da prece. Poderíamos chamar isso de “quietude”. É uma atitude orante e atenta aos céus que sempre se abrem para os místicos. Porém, a iniciativa da canção não é nossa. Maria escuta uma palavra que vem de Deus. Nela esta Palavra vai se encarnar. Precisamos passar por este momento receptivo de escuta para que sejamos, depois, um eco criativo do Criador. Não sou eu quem canto. É Deus quem canta em mim. Assim vai sendo tecida a música mística. Maria cala e escuta. Mas diante das palavras do anjo ela fica “maravilhada”. Este é um passo típico do músico ungido: a capacidade de se encantar, de ficar perplexo e até um pouco perturbado pelas palavras que ouve Deus falar em seu coração. Em seguida a inspirada Maria coloca-se a pensar no que significaria tudo isso. Não basta ficar em êxtase. É preciso estudar, refletir, ler, pensar no que significa esta inspiração que estou tendo agora. E, finalmente, Maria arrisca uma pergunta: “Como?” Aqui passamos da recepção passiva e chegamos na pró-atividade do processo criativo. Não somos simples intérpretes qualificados da voz de Deus. Ele nos quer como “parceiros” nesta composição. Maria escuta atentamente as explicações do arcanjo Gabriel. Existem músicos que vivem da ilusão de que uma canção vem como que num passe de mágica. Não. O talento é 10% inspiração e 90% transpiração. É a hora do exaustivo ensaio. Ensaiar sem ninguém vendo seu show de tentativas e erros é uma forma de viver a santidade musical. Após tudo isso vem a hora da resposta de Maria: “Eis-me aqui; faça-se em mim sua Palavra!” Volta a dimensão receptiva. Deixe Deus fazer a obra em você. Santa Cecília também viveu esta atenção ao anjo da Guarda que Deus colocou em sua vida para proteger seus valores. Ela viveu esta dinâmica da mística a exemplo de sua mestra e mãe, Maria.
A Missão
O “eis-me aqui” de Maria revelou que ela era “serva” do Senhor, ou seja, ministra da Palavra encarnada definitivamente em seu ventre no seu coração. Curiosamente ela não estaciona na mística. Aquela que é disponível aos céus, na figura de Gabriel, é solidária com a terra, na pessoa da prima Isabel. E ela sai às pressas para transformar a inspiração em serviço. Não bastou a mística para gerar sua canção. Era preciso passar pelo caminho do serviço solidário. Aqui acontece uma cena maravilhosa. Ao encontrar com Isabel a voz inspirada de Maria contagia Isabel que fica entusiasmada, ou seja, cheia de Deus. Este é um papel do músico cristão: entusiasmar a comunidade; animar os que estão no caminho, muitas vezes desanimados. Santa Cecília foi um exemplo de entusiasmo contagiante. Sabemos por alguns relatos o modo como ela contagiou seu noivo pagão, Valeriano, que acabou se tornando cristão fervoroso a ponto de converter seu irmão Tibúrcio. Os dois se mantiveram firmes na fé até o martírio. A música inspirada e solidária nos habilita para contagiar as pessoas.
A Canção
Após este itinerário de mística e missão lemos no capítulo 1 de Lucas que Maria e Isabel cantaram. Esta magnífica canção mistura estas duas lições – mística e missão – de modo primoroso. É uma canção que começa em chave pessoal – minha alma – e termina convocanto todo o povo para cantar, desde Abraão e toda a sua descendência para sempre. Não é cristã uma canção que fique somente no singular – eu e Deus. Maria nos ensina que a prece cristã reconhece que o Pai é “nosso” e o pão também é “nosso”. A segunda característica desta canção integral e integradora é que ela une louvor e clamor. Não tem medo de engrandecer o Senhor nem de pedir que os orgulhosos e prepotentes sejam derrubados de seu trono. Nossas liturgias não podem ser resumidas no louvor. Deus continua querendo ouvir o clamor do seu povo. Neste sentido é dramática a cena do martírio de Santa Cecília que impactou fortemente o imaginário cristão durante séculos: morreu cantando e exortando os irmãos. Séculos depois seu corpo foi encontrado incorrupto, íntegro. Isto nos ensina que a música precisa ser integral. Ela cria um ambiente salutar na comunidade. Vivemos em um mundo poluído por tantas canções que desintegram. Que a nossa canção seja como a magnífica prece de Maria e de Cecília: um testemunho de que a vida sempre tem a palavra final.

Pe. Joãozinho, scj (João Carlos Almeida).
Doutor em Teologia (PUC-SP), Educação (USP) e Espiritualidade (Gregoriana – ROMA).
Professor de Doutrina Social da Igreja e Espiritualidade na Faculdade Dehoniana, Taubaté-SP.
Autor com Pe. Zezinho, scj do livro “Chamados a cantar a fé” (Editora Santuário).

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